quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Psicologia das Emoções

A neuropsicologia é a ciência que estuda a relação entre o cérebro e o comportamento humano. Tem como objectivo estudar e compreender o comportamento humano considerando o funcionamento das diversas estruturas e áreas do sistema nervoso. Ela estuda as funções corticais superiores, como a atenção, a memória, a linguagem, o raciocínio lógico-matemático, a percepção visual, as funções executivas, entre outras funções cognitivas. A neuropsicologia considera "a participação do cérebro nessas funções mentais como um todo, no qual as áreas são interdependentes e inter-relacionadas, funcionando comparativamente a uma orquestra, que depende da integração de seus componentes para realizar um concerto".
Após os anos 90, da chamada Década do Cérebro, os avanços tecnológicos possibilitaram os estudos de neuroimagem associados ao comportamento, o desenvolvimento de técnicas de reabilitação e a divulgação científica por meio de diversas mídias. Esses factores, associados ao aumento da formação e capacitação de psicólogos na área, são factores que promoveram uma maior visibilidade da neuropsicologia como se observa hoje. Embora estudada há vários anos, a neuropsicologia é uma área que tem se beneficiado dos avanços recentes das neurociências, das ciências que estudam o sistema nervoso, em particular, o cérebro.
         
As pessoas, quando se encontram numa determinada situação extrema de condição emocional, a percepção tende a variar de acordo com experiencias por elas vivenciadas. Pode-se dizer assim, que os processos mentais, memória e outros aspectos podem influenciar a interpretação dos dados percebidos.
         
Na área de estudos sobre a neuro-psicologia, a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais tem como base a percepção, através de vivências passadas. A partir do estímulo sensorial, o indivíduo organiza e interpreta as suas sensações para atribuir significados ao meio em que está envolvido.
A percepção pode ser estudada precisamente a nível biológico ou fisiológico.
Na psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Neste contexto, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objecto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si própria.
         
Determinados especialistas na área da psicologia defendem que ao permutar pelo mundo, as pessoas criam um "paradigma mental" de como funciona o mundo. Ou seja, o mapa sensorial que esse paradigma provoca na mente é temporário pois somos constantemente bombardeados de informação.
À medida que acumulamos novas informações, a nossa percepção tende a alterar.
O processo da percepção inicia essencialmente com a atenção. Os factores externos mais importantes da atenção são a intensidade, ou seja, a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se apresentam com grande intensidade; o contraste, ou seja, a atenção será muito mais despertada quanto mais contraste existir entre os estímulos; o movimento que constitui um elemento principal no despertar da atenção, pois algo em movimento é mais estimulante do que algo estático; e a incongruência, ou seja, prestamos mais atenção às coisas absurdas e bizarras do que ao que é considerado normal.
         
Os factores internos que mais influenciam a atenção são a motivação, ou seja ponderamos mais as situações que nos motivam e nos dão prazer do que as que não nos interessam. A vivência passada, algo já percepcionado, faz com que estejamos mais atentos ao que já conhecemos e entendemos. O fenômeno social que explica que a nossa natureza social faz com que as pessoas de contextos sociais diferentes não prestem a mesma atenção aos mesmos objetos.
Nos seres humanos, as formas mais desenvolvidas são a percepção visual e auditiva, pois durante muito tempo foram os sentidos essenciais para a sobrevivência.
A percepção visual compreende, entre outras coisas:
• Percepção de formas;
• Percepção de relações espaciais, como profundidade. Relacionado à percepção espacial;
• Percepção de cores;
• Percepção de intensidade luminosa;
• Percepção de movimentos.
Entre os factores considerados no estudo da percepção auditiva estão:
• Percepção de timbres;
• Percepção de alturas ou frequências;
• Percepção de intensidade sonora ou volume;
• Percepção rítmica, que na verdade é uma forma de percepção temporal;
• Localização auditiva, um aspecto da percepção espacial, que permite distinguir o local de origem de um som.
Comportamento não verbal
Possíveis Interpretações
Movimentação rápida, andar eretoConfiança
Parar com as mãos na cinturaIncompreensão, agressividade
Sentar com pernas cruzadas e pequenos
chutes no ar.
Cansaço, aborrecimento
Sentar com as pernas abertasAbertura, relaxamento
Braços cruzados no peitoDefensiva
Andar com as mãos nos bolsos, olhando
para baixo
Falta de entusiasmo, desmotivado.
Mãos nas maças do rostoAvaliação, pensamento.
Coçar o nariz, tocar o nariz ao falar.Dúvida, mentira.
Esfregar os olhosDescrença, Dúvida, mentira
Mãos fechadas atrás das costasFrustração, ódio.
Tornozelos fechadosApreensão
Apoiar a cabeça nas mãos, olhar para baixo
longamente
Aborrecimento
Esfregar as mãosAntecipação, ansiedade
Sentar com as mãos para trás da cabeça e
de pernas cruzadas
Confiança, Superioridade
Mãos abertas, palmas para cima.Sinceridade, inocência, abertura
Coçar a ponta do nariz, olhos fechadosAvaliação negativa
Batucar com os dedos, olhar o relógio.Impaciência.
Estalar os dedosAutoridade
alisar o cabeloinsegurança
Inclinar/ Virar a cabeça na direção...Interesse
coçar o queixoPensando
Desviar o olharDesconfiança
Roer unhasAnsiedade, insegurança
Puxar ou coçar a orelhaIndecisão
A complexidade das emoções reside no significado que atribuímos às pessoas, aos acontecimentos e aos lugares, que depende dos nossos valores, princípios e da nossa história pessoal.
Outro contributo importante do escritor António Damásio foi a classificação das emoções, distinguindo diferentes tipos:
-   Emoções primárias ou universais – surgem na infância com o intuito de reagir rapidamente a diferentes estímulos – alegria, tristeza, medo, surpresa,...
-   Emoções secundárias ou sociais – constituem-se por cima das primárias, experimentando-se mais tarde. Implicam uma avaliação cognitiva das situações e o recurso a aprendizagens feitas (córtex pré-frontal) -  vergonha, ciúme, culpa, orgulho,...
-   Emoções de fundo – bem ou mal-estar, calma ou tensão,...
Emoções: 
-   Tem origem numa causa, num objecto;
-   São reacções corporais específicas, observáveis;
-   São publicas e voltadas para o exterior;
-   São automáticas e inconscientes;
-   Polaridade: podem ser negativas ou positivas;
-   São versáteis: variam em intensidade e são de breve duração;
-   Relacionam-se com o tempo: as emoções têm princípio e fim.
-  O estado de emoção – a emoção pode ser desencadeada e  experimentada de forma inconsciente;
Componentes das Emoções:
-   Componente cognitiva - Ocorre quando tomamos conhecimento do facto: se não houver conhecimento deste, não se experimenta qualquer emoção;
-   Componente avaliativa - Fazemos uma avaliação, agradável ou desagradável, da situação;
-   Componente fisiológica - Manifestações orgânicas, corporais face à emoção;
-   Componente expressiva - Expressões corporais que permitem mostrar ao outro as nossas emoções;
-   Componente comportamental - Comportamento que o sujeito poderá ter face ao outro, é o estado emocional que desencadeia determinado conjunto de comportamentos;
-   Componente subjectiva - Relaciona-se com o que o indivíduo sente a nível emocional e interior a que só ele tem acesso, ou seja, é o estado afetivo associado à emoção.
A emoção não se pode resumir a nenhuma destas componentes, sendo que uma influência todas as outras.
Perspectivas sobre as Emoções
Perspectiva Evolutiva
Charles Darwin procurou traços comuns na expressão de emoções em vários povos, e identificou seis emoções primárias: a alegria, a tristeza, a surpresa, a cólera, o desgosto e o medo. Considerou que as emoções têm um papel adaptativo fundamental na história da espécie humana, sendo determinante para a sua capacidade de sobrevivência.
Mais tarde, Paul Ekman procurou testar uma tese que defendia que povos diferentes teriam emoções diferentes. Utilizou fotografias de norte-americanos a interpretar as seis emoções primárias, para questionar o povo Foré e apurar se conseguiam identificá-las. Acabou por  confirmar a tese de Darwin: há emoções que são universais, independentes do processo de aprendizagem e da cultura em que se manifesta. Não nega a influência da cultura nas emoções, na medida em que há regras que controlam a sua expressão. Porem, existe um patrimônio comum ao nível das emoções e da sua expressão.
Perspectiva Fisiológica
Defendida por Willians James, que considerava que as emoções resultariam da consciência das mudanças orgânicas provocadas por determinados estímulos. Assim, numa situação de perigo eu tenho medo porque fujo e não ao contrário. Tomo consciência das pernas a tremer, da respiração ofegante,..., o que me faz sentir medo. As emoções resultam das percepções do estado do corpo, das mudanças orgânicas o provocadas por estímulos. O estado de consciência de emoções como a cólera, a alegria, a raiva, resume-se à consciência de manifestações fisiológicas. Um aspecto positivo da sua teoria, foi ter considerado que a emoção é um estado subjectivo e ter mostrado o interesse do estudo das emoções.
Perspectiva Cognitivista
Afirmam que os processos cognitivos, como as percepções, recordações e aprendizagens, são fundamentais para se perceberem as emoções. É o modo como interpreto determinada situação e a avalio segundo a minha história pessoal, que provoca a emoção.
Perspectiva Culturalista
As emoções são processos aprendidos no processo de socialização.  As emoções são uma construção social, como tal têm que ser aprendidas. As diferentes sociedades e culturas definem o tipo de emoções que se podem manifestar e como as manifestar. A sua forma de expressão varia de cultura para cultura, dependendo assim do espaço e do tempo. Nega a existência de emoções universais: à diversidade cultural corresponde uma diversidade de emoções e das respectivas expressões.
Razão e Emoção    
As pesquisas levadas a cabo por Damásio, referentes às áreas pré-frontais do cérebro, em que analisou vários casos de doentes com lesões, provocados por acidentes vasculares cerebrais, tumores ou traumatismo craniano, lesões estas que provocavam uma modificação na capacidade de decidir, especialmente em situações de carácter pessoal e social que envolvem risco e conflito, levaram-no a concluir que as emoções eram importantes na tomada de decisão. Assim, quando temos de tomar uma decisão é preciso:
-        Ter conhecimento da situação;
-        Conhecer as diferentes opções de ação;
-        Conhecer as consequências dessas ações no presente futuro.
A análise rigorosa de cada uma das hipóteses levaria tanto tempo que a opção escolhida deixaria de ser oportuna, ou então, perder-nos-íamos nos cálculos das vantagens e das desvantagens. Segundo o próprio autor, "a emoção bem dirigida parece ser o sistema de apoio sem o qual o edifício da razão não pode funcionar eficazmente".
A tomada de decisão é suportada por duas vias complementares:
-        Representação das consequências de uma opção disponibilizada pelo raciocínio: avaliação da situação, levantamento das opções possíveis, comparações lógicas, etc.; 
-        A percepção da situação provoca a ativação de experiências emocionais experimentadas anteriormente em situações semelhantes.

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