segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Transgenerismo


"Transgenerismo" é a ruptura com os papéis de género tradicionais. Na nossa sociedade existem dois papéis sociais «clássicos»: o de homem e o de mulher. Estes dois papéis sociais estão intimamente ligados à noção de sexo biológico. Simplificando: espera-se que uma pessoa se comporte de determinada maneira em função dos órgãos genitais com que nasceu. As pessoas que não são homens ou mulheres «tradicionais», ou seja, as pessoas cujo comportamento é diferente daquilo que se espera são transgéneros.
Existem vários tipos de transgenerismo, sendo mais fácil dividi-los em duas categorias: aquela em que se considera apenas a existência dos dois papéis tradicionais, independentemente de se ter efectuado, ou não, todo o procedimento clínico de aproximação física do sexo com que o indivíduo se identifica psicologicamente; e aquela em que "homem" e "mulher" são considerados apenas como dois géneros entre muitos outros.
Na primeira categoria enAcontram-se os transexuais e os bigendered. Os primeiros sentem que nasceram no corpo errado, uma vez que psicologicamente pertencem ao sexo oposto e tentam ou gostariam de trocar de corpo para corrigir o que consideram um erro da natureza. Entre estes existem as transexuais M-F (pessoas que se sentem mulheres, mas que nasceram com corpo masculino) e os transexuais F-M (pessoas que se sentem homens, mas que nasceram com corpo feminino). Nem todos os transexuais se submetem à cirurgia de mudança de sexo. Isto acontece por razões económicas, sociais, físicas, ou porque após fazerem alterações no seu corpo para que se pareça o mais possível com o seu tipo de género se sentem tão bem com as alterações físicas e com a sua vivência no género desejado, que nem sequer desejam fazê-la. Um exemplo são as “shemale”, transexuais M-F que fizeram tratamento hormonal, vivem psico-socialmente no feminino, mas não fizeram cirurgia para correcção de sexo. As pessoas bigendered não desejam trocar definitivamente de corpo (muitas nem sequer desejam uma troca temporária), vivendo felizes se puderem ir vivendo os papéis de homem e de mulher alternadamente; há quem viva várias semanas em cada género e quem viva um deles apenas durante algumas horas.
Na segunda categoria encontram-se as pessoas para as quais não existe um rótulo, embora várias tentativas tenham sido feitas: agendered (no sentido de não pertencerem a nenhum dos géneros tradicionais), poligendered (no sentido de terem características de ambos), thirdgendered (que indica que o modelo dicotómico de géneros é insuficiente)… Trata-se das pessoas que vivem fora das normas de comportamento instituídas, agindo sem ligar a estereótipos ou a convenções normativas. Vão desde a pessoa com visual e comportamento andróginos até às flame queens (pessoas que Martin Duberman, autor do livro Stonewall, definiu como «parcialmente travestidas»), passando por todas as variações subtis que se possam imaginar.
Em qualquer destas duas categorias, ambas relacionadas com aspectos psicológicos, é ainda possível encontrar casos de intersexualismo, que é, por sua vez, uma condição física. Existem vários tipos de intersexualismo: desde as pessoas que têm um comportamento típico de um dos sexos e um corpo aparentemente do outro (alguns estudos apontam para a existência de cérebros morfologicamente femininos em mulheres transexuais, ou seja em pessoas que tinham um corpo tipicamente masculino e se sentiam mulheres), às pessoas cujo corpo é ambíguo (possuindo mesmo um pequeno pénis e uma vulva), passando por aqueles cujo corpo parece ser «normal» mas cujo cariótipo revela que seria de esperar que tivessem nascido com um corpo do sexo oposto. Geralmente o termo “hermafrodita” ou "intersexual" é usado para designar pessoas que possuem elementos dos dois aparelhos reprodutores (um ovário e um testículo ou uma vulva e testículos, por exemplo).

O que é o género?

Embora ainda existam teorias que defendem que o "género" é sinónimo de "sexo" há escolas filosóficas que defendem uma distinção entre os termos. Afinal, nem todas as mulheres, por exemplo, se comportam da mesma maneira: não usam todas a mesma linguagem, não têm os mesmos interesses, as mesmas capacidades, a mesma simpatia, a mesma agressividade, o mesmo romantismo… E é por isso que muita gente usa o termo "género" como sinónimo de qualquer coisa como "papel social" ou "tipo de pessoa". O género é assim bastante independente do corpo de cada um(a).

Qual é a diferença entre a homossexualidade e o transgenerismo? 

A homossexualidade é uma orientação da atracção emocional e sexual. Refere-se às pessoas de quem gostamos. O transgenerismo refere-se a quem sentimos que somos. Diz respeito aos papéis sociais, ou seja, às formas de (inter)agir. Refere-se à imagem que as pessoas constroem de si mesmas através do vestuário e/ou do comportamento (os gestos que fazem, a maneira como falam, as reacções que têm…). Uma pessoa transgénera pode considerar-se homossexual (se for uma mulher transexual que gosta de mulheres, por exemplo), mas quando as pessoas são agendered costumam achar que não faz sentido dizerem-se do sexo X e atraídas por pessoas do sexo X ou Y. Estas pessoas também se auto-denonimam frequentemente de queer.




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